04 julho, 2008

Um dia é preciso escrever coisas felizes

Todo o texto feliz ou emocionante geralmente começa com “existem coisas na vida” e assim o texto prossegue. Com este texto não poderia ser diferente por que, de fato, existem coisas na vida que fazem com que ela valha a pena, por mais piegas que isto possa parecer. A gente tem que passar por aqui para saber como é sentir tanta coisa junta. E eu sinto algumas que são assim:

Dormir abraçado em baixo de um edredon, numa cama cheia de almofadas, parecendo um ninho, com uma pessoa tão especial que faz-nos sentir parados no tempo e presos para sempre nos lençóis. E dessa prisão nenhum dos dois querer sair.

Passar a madrugada conversando qualquer coisa, deitada numa cama, olhando nos olhos quem a gente quer bem, sem que no outro dia seja preciso ir trabalhar. Sem que dia nenhum da nossa vida seja dia de ir trabalhar.

Dar risadas bem altas ao fim da tarde, na praia, com a melhor amiga, olhando para o mar, correndo na areia, num dia de domingo, com a praia vazia. E o sol simplesmente nunca se pôr.

Acordar com mamãe, à beira da cama, fazendo carinho no meu rosto, nos meus cabelos, dando beijinhos e imitando os passarinhos para eu acordar. E sempre ter a sensação de que não existe amor maior que esse.

Andar descalça pela casa, com uma blusa comprida, calcinha de algodão bem confortável e um copo cheio de morangos com leite condensado. E saber o que é doce de verdade.

Ver a chuva cair lá fora e estar aqui dentro, quentinha, ouvindo um fado, pensando em nada, pensando em tudo, dormindo ou simplesmente deitada. E ver que ainda é sábado e que o final de semana não acabou.

Abrir um livro e encontrar uma antiga carta de amor que foi escrita, mas não foi entregue e perceber como o amor e o sofrimento se repetem sempre, quase com a mesma intensidade, mas com formas de descrever diferentes. E ver que de uma narrativa para a outra só mudam os personagens.

Adormecer na cama do meu pai enquanto ele dá beijinhos na minha mão e fingir que ainda não acordei só para ele continuar a mexer nos meus cabelos e dizer no meu ouvido “amo tu”. E ter medo de um dia perder isso.

Tomar um banho muito quente, de deixar a pele vermelha, sair enrolada na toalha e deitar na cama e assim dormir, de toalha, mas com alguém do lado. E deixar que esse alguém sinta o cheiro do seu pescoço.

Acordar com o rosto amassado, os olhos inchados, o cabelo despenteado, o pijama todo torto no corpo, e se espreguiçar demoradamente e perceber que tem um cachorro lindo lambendo o seu dedão do pé. E achar que baba de cachorro é o máximo.

Pegar aquele bebezinho no colo, dar mamadeira, colocar para dormir, fazer massagem para cólica, dar beijinhos na barriga, apertar o bumbum, fazer palhaças, mesmo quando ele não é seu. E ver que se fosse seu, você seria a melhor mãe do mundo.

Comer crepes de chocolate com quem nos faz bem, por que um crepe de chocolate só se divide com quem se gosta. E saber que essa pessoa também gosta de nós em algum momento.



CRÉDITOS

Aos crepes de chocolate.
A mamãe por ser tudo.
Aos lençóis por me abraçar.

Auf wiedersehen.

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