27 agosto, 2010

Não faz mais tanto sentido

Começa assim. Com a paixão mais egoísta de todas. Com os mais intensos sonhos adolescentes. Toda menina sonha com aquele que vai fazer o seu coração bater mais forte. Tão forte que não se contenha dentro do peito. O que eu digo com paixão egoísta é aquela que, quando somos muito jovens, queremos apenas a agonia inefável das paixões de verão. Tudo ao extremo, os maiores sentimentos, alguém que não consiga mais viver sem a gente. Por que toda aquela coisa de criança, de brincar na solidão, não faz mais tanto sentido.

Depois vem aquela paixão menos dramática, mais comedida, em que a liberdade dos anos, adquirida, nos faz não precisar mais de namorar escondido. Quase tudo é permitido e por-favor-me-conta-todos-os-teus-segredos. Aquela coisa de sofrer por saber demais. Por que todo aquele delírio, não faz mais tanto sentido. E eu quero compromisso.

Aos poucos a exigência com o outro vai aumentando e a necessidade de sentir um amor intenso vai diminuindo e toda aquela história de coração pulsante, sempre disparado, de mãos suadas e borboletas no estômago vão dando lugar ao discurso de que-eu-quero-a-sorte-de-um-amor-tranquilo, aquele com sabor de fruta mordida. Por que o sofrimento dos segredos (para quê sabê-los?) não faz mais tanto sentido.

E eis que depois de um tempo, com ou sem ninguém, a vontade de amar já não é tão grande e a gente só quer alguém que seja um bom pai para os nossos filhos ou que, não havendo filhos, seja aquele que sabe tratar bem. Por que sabe...aquela coisa toda de amor tranquilo, nada mais é do que um capricho, e já não faz mais tanto sentido. Eu só quero filhos.

Os anos se passam e a gente percebe que não precisa sentir tanto assim, por que sentir dá trabalho e o poeta já dizia que-não-se-pode-amar-e-ser-feliz-ao-mesmo-tempo. E aí só precisamos realmente de alguém a quem suportamos os defeitos, com quem conseguimos dividir o leito, sem brigar pelo edredon. Alguém com quem dê para conversar apenas e envelhecer juntos na varanda. Por que sabe...aquela coisa de família e de filhos, já não faz o menor sentido. Todo mundo já se criou.

E talvez no fim dos tempos, todo o amor do mundo, ao longo contido, volte para dentro do peito e fique comigo. Por que sabe...toda aquela coisa de alguém com você pra sempre, não faz mais tanto sentido. E eu quero dormir sozinho.

17 comentários:

  1. muito bom o texto.
    também não posso dizer que me surpreendo com a sua capacidade de expressar os sentimentos.pois vejo que seu talento nato é admirável.
    parabéns

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  2. adorei. me encontro em algum lugar aí no meio... talvez entre o segundo e o terceiro parágrafo! ta de parabéns, muito legal teu texto!
    bjs

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  3. Nossa, fiquei emocionada ao ler. Parabéns pela obra =D

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  4. Triste, mas lindo e mega verdadeiro! Parabéns :)

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  5. Concordo com os comentários que a escritora tem talento. Não posso discordar dela sobre a realidade de um relacionamento, mas posso sim escolher tê-lo. Escolher saber aproveitar cada momento bom que ela detalha como início de uma fase e fazer valer a pena qnd terminar. Poder dizer, do fundo da alma: “foi bom enquanto durou, enquanto éramos felizes”.

    Sei do ceticismo em relação ao amor. O não agüentar mais se relacionar pra sofrer depois. E quer saber? _ Eu não acredito no casamento como instituição e, principalmente, como festa de R$ 70.000 para agradar a família e amigos. Mas acredito num sentimento tão bom, tão grande que me faz querer estar sempre junto e não brigar pelo edredom, preferir ficar com um pouco de frio enquanto observo a amada dormir, pois é um momento tão bom q chega a esquentar. Prefiro e escolho correr o risco de um dia dizer “esse é o fim” e ter inúmeras boas lembranças dos momentos, não necessariamente da pessoa que esteve comigo. Prefiro amar e me machucar a nunca me arriscar, pois, qnd me arrisco, corro o risco, tb, de acertar.

    Respeito totalmente a opinião da Carol (escritora desse texto), até posso dizer q já houve momentos em que pensei assim, mas nunca esqueço que para tudo no mundo existem mais de uma versão e essa nossa vida é cíclica. Até ela vai escolher se arriscar novamente. Assim como vc. Pois merece mto ser feliz e encontrar alguém não que lhe faça feliz ou complemente, mas te faça sentir uma pessoa melhor lhe tratando como a princesa que sei que é.

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  6. Thiago amei seu comentário. O texto, obviamente, não é um descrédito ao amor. Muito menos acredito em amor de casamento de R$ 70.000. Tal como você acredito que sim, a gente deve se arriscar sempre por que a gente pode sim quebrar a cara, mas pode mais ainda ser muito feliz. E eu faço isso. Me arrisco sempre. O texto só trata de tantas mulheres e tantos sentimentos que a gente vai desenvolvendo ou ao longo da vida ou dentro de um mesmo relacionamento. Posturas que vão mudando e vão nos deixando anestesiados.

    Obrigado a você e a todas as meninas que comentaram aqui no blog. :)

    Beijos enormes, Carols

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  7. Adorei! Muito bom... Faz muito sentido! =D

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  8. Lindo o seu texto, mas tome cuidado com as suas criações, alguns blogs, como esse http://drikasimoes.blogspot.com/2010/12/com-o-tempo-os-sentidos-vao-mudando.html#comments usam o seu texto e não tem a capacidade de citar a autora

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  9. Anonimo...obrigadíssima pela denúncia. Já pedi meus devidos créditos no blog da menina que postou. Obrigada pelo alerta mesmo. Infelizmente isso acontece muito né? :(

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  10. De nada, Carol. Acredito que se você opta por ser blogueira, deve escrever seus próprios textos e se for citar alguém É OBRIGATÓRIO colocar os créditos. O pior é que essa menina se diz formada em Letras, deve ser sopa de letrinhas porque não é só o seu que está sem referência. Sucesso, linda!

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