12 outubro, 2011

Inferno astral

12 de outubro de 2011: inferno astral. Faltam quatro dias para o meu aniversário e aí está uma data que nos deixa sensíveis a reflexões. Vou fazer 26 anos e algumas questões de ordem psicofisiológicas começam a tomar proporções gigantescas nos meus pensamentos cotidianos. 

A maioria das minhas amigas está casada/namorando-prestes-a-casar, então por que será que eu não sinto a urgência de um compromisso tão sério quanto um casamento perfeito e uma casa com filhinhos? Não era suposto que eu, depois de 3 anos com o meu namorado, estivesse louca para entregar meu coração pra sempre em forma de uma linda aliança no dedo, como todas as meninas sonham? 

E por que cargas d'água eu prefiro dançar loucamente numa balada, embriagada de um bom vinho, sem hora pra dormir, enquanto as meninas da minha idade preferem cinemas e cartas de amor ou cerveja e caranguejo, numa mesa de bar? Podem parecer questões idiotas, mas influenciam enormemente a minha vida quando, em pleno fim de semana, eu não tenho com quem sair por que ninguém próximo na minha vida, se comporta como eu. 

Serei eu uma adulta presa na sede desmesurada de viver? Na urgência adolescente do excesso? Qual foi a aula da vida que eu perdi e que, aparentemente, todo mundo assistiu? Ou pior, qual foi a aula que eu assisti sozinha, na primeira fila, prestando tanta atenção? E qual foi o vagão do trem que acalma os ímpetos, a mente e o coração das meninas acima dos 20 anos, que eu deixei passar?

09 outubro, 2011

pelo direito de ser triste


Depois de 15 anos morando em Portugal eu me acostumei com a tristeza profunda e o saudosismo do povo da terra. São quase todos assim. 6 anos depois de voltar a morar no Brasil, retornei a Portugal de férias e descobri que tinha me desacostumado com o jeito lusitano em que nunca ninguém está bem e todos os dias "vai-se andando".

Porém eu constatei uma verdade esmagadora: todo brasileiro tem o compromisso de ser feliz. Essa é a "nossa cara", nosso país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza. Somos brasileiros e não desistimos nunca de sermos felizes. Você pode ser pobre miserável, rico, doente, insano, mas você tem que ser feliz. Caso contrário você é uma verdadeira decepção.

Quem se criou aqui talvez não compreenda a dimensão desse problema (talvez nem considere um problema), mas o fato é que, não importa a miséria ao seu redor, ou a falta de dinheiro no bolso, ou as crianças morrendo nos hospitais. Você é obrigado a ser feliz. Você tem a obrigação social de ser animado na mesa do bar, de olhar a vida com positividade (sempre!), de beber cerveja e curtir carnaval, de ser o mais divertido da festa. Você é cobrado pelo sorriso, não importa a dificuldade na sua vida, você tem que agradecer a Deus por estar vivo. E ser feliz.

Você faz parte do povo mais feliz do mundo! Não ouse ser triste, por que isso não combina com um bom enredo de samba. E se você abrir a boca para afirmar que não é feliz, que sua vida não é espetacular, que você não supera todos os problemas, que não passa com o trator do humor por cima da crueldade do mundo, então você é doente, precisa com certeza se tratar, isso deve ser alguma depressão.

É difícil entender como ser feliz o tempo todo pode ser uma tarefa fatigante? E se você não for feliz mesmo? Passamos grande parte do nosso tempo provando para os outros como nosso astral é maravilhoso, para que ninguém se incomode com o que incomoda o coração. Somos todos palhaços de um circo sem futuro (já diria Lirinha), onde a maquiagem do sorriso esconde a tristeza da obrigação. 

Mas ser brasileiro é isso mesmo, ser feliz sim. E triste? Longe de mim.

03 outubro, 2011

todos os dias um novo coração


admito. eu não fui ao psiquiatra para me diagnosticar. eu não tomo remédios controlados, e não sofro propriamente de instabilidade de comportamento, desses que me levam da euforia extrema à depressão profunda. na verdade me expressei mal. meu coração é bipolar, não eu. eu sou apenas o invólucro onde ele habita, totalmente desgovernado e cheio de si, dono dos meus passos.

acontece que cada dia ele (o coração desgovernado) toma para si um novo papel. seja o apaixonado, seja o insensível. mas qualquer papel que seja, tem a intensidade de ser inteiro, de tomar conta de mim completamente.

acontece que hoje eu posso amar com todas as forças, posso ser solícita e doce, posso ser compreensiva e sorrir pra você. amanhã já não sei. meu coração acorda de acordo com a própria vontade. desculpa, eu não tenho controle sobre ele.

amanhã você pode ser um estranho, alguém que eu nem quero mais na minha vida, ou que eu não vou me esforçar para agradar. amanhã, quem sabe, você não caiba no meu peito, não haja espaço pro seu jeito. desculpa, eu não tenho controle sobre ele.

acontece ainda que hoje, eu posso te querer por perto e pra sempre, mesmo sabendo que o pra sempre do meu peito dura apenas as próximas 24 horas. e no momento seguinte, quando você virar as costas, eu simplesmente pense: eu nunca mais quero te ver.

ou eu posso ainda acordar sem graça e sem viço e o coração acordar comigo, mas como se não batesse. um coração insensível, sem espaço pro sentido, vazio. um ninho intocável onde habita a solidão.

e no fim do dia,
seja qual for o sentimento,
o mais absurdo,
o mais intenso,
é todo meu e me toma,
corpo e alma e coração.

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Ilustração do meu projeto pessoal Todos os Dias um Novo Coração 
(que não é alimentado todos os dias, exatamente.)