03 outubro, 2011

todos os dias um novo coração


admito. eu não fui ao psiquiatra para me diagnosticar. eu não tomo remédios controlados, e não sofro propriamente de instabilidade de comportamento, desses que me levam da euforia extrema à depressão profunda. na verdade me expressei mal. meu coração é bipolar, não eu. eu sou apenas o invólucro onde ele habita, totalmente desgovernado e cheio de si, dono dos meus passos.

acontece que cada dia ele (o coração desgovernado) toma para si um novo papel. seja o apaixonado, seja o insensível. mas qualquer papel que seja, tem a intensidade de ser inteiro, de tomar conta de mim completamente.

acontece que hoje eu posso amar com todas as forças, posso ser solícita e doce, posso ser compreensiva e sorrir pra você. amanhã já não sei. meu coração acorda de acordo com a própria vontade. desculpa, eu não tenho controle sobre ele.

amanhã você pode ser um estranho, alguém que eu nem quero mais na minha vida, ou que eu não vou me esforçar para agradar. amanhã, quem sabe, você não caiba no meu peito, não haja espaço pro seu jeito. desculpa, eu não tenho controle sobre ele.

acontece ainda que hoje, eu posso te querer por perto e pra sempre, mesmo sabendo que o pra sempre do meu peito dura apenas as próximas 24 horas. e no momento seguinte, quando você virar as costas, eu simplesmente pense: eu nunca mais quero te ver.

ou eu posso ainda acordar sem graça e sem viço e o coração acordar comigo, mas como se não batesse. um coração insensível, sem espaço pro sentido, vazio. um ninho intocável onde habita a solidão.

e no fim do dia,
seja qual for o sentimento,
o mais absurdo,
o mais intenso,
é todo meu e me toma,
corpo e alma e coração.

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Ilustração do meu projeto pessoal Todos os Dias um Novo Coração 
(que não é alimentado todos os dias, exatamente.)

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