16 outubro, 2012

na janela

imagem: daqui.

- Senta direito, Gabriela. - disse Matilde com uma voz firme. 
- Quantas vezes eu preciso dizer pra você não 
colocar o rosto pra fora da janela? - continua a mãe.

Perdida no vento que fazia lá fora,
com os olhos fechados e sem demora,
Gabriela responde com a doçura negligente
da infância:

- Eu só queria sentir o vento no rosto, mamãe. 
Sentir o sol queimar minha testa. 
A estrada é tão longa, o percurso é uma demora, 
o destino é uma espera e eu nem sei pra onde 
eu indo, mesmo. Me deixa ficar com a cabeça 
pra fora da janela. - responde Gabriela.

Diante da sensatez por trás daquela ingenuidade
comovente, Matilde segurou o volante com suas 
duas mãos trêmulas e chorou. Escondeu a lágrima 
que escorreu na face, com um sorriso no retrovisor.

Como ela nunca compreendera? Porquê ela 
sempre escolhera fechar as portas e as janelas? 
E como Gabriela, tão pequena, percebera 
que viver é mesmo estar exposta, com os olhos, 
o rosto e o coração pra fora?

- Gabriela...mamãe vai parar o carro 
pra você abrir a porta.



10 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. é perigoso ficar com a cabeça do lado de fora.
    minha mãe me ensinou assim, e ela nem é castradora, é gente fina.
    é que um outro carro pode arrancar a cabeça ou algo assim.


    Hehe


    texto bonito.

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  3. Carol,

    adorei seu texto, e as vezes me sinto a mãe da Gabriela, mas por dentro a vontade louca de estar com a cabeça pra fora da janela, para e abrir a porta.

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  4. Seu texto nos leva a boas e ricas reflexões Carol. Linda é essa sua sensibilidade! Parabéns.

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  5. Seu texto nos leva a boas e ricas reflexões Carol. Linda é essa sua sensibilidade! Parabéns.

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  6. Amei <3 Já fiz uma postagem com esta foto rsrs
    Conheçam meu textos: http://www.avidaemletras.com/

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  7. Precisamos escolher os caminhos a trilhar, mas sem fechar os olhos para possíveis novas oportunidades. Como disse a sensata Gabriela, agente não sabe pra onde tá indo, então por que não aproveitar bem a viagem? A vida é muito curta para limitar-se ao incerto.

    Lindo texto Carol, ótima reflexão. Admiro mto vc.

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  8. Texto perfeito, que nos faz pensar em como seria bom se vivéssemos a vida sem amarras. Aproveitado os ventos, as chuvas as pedras no caminho. Parabéns pelo blog.

    Também tenho um blog onde escrevo poemas e textos. Se interessar, faça uma visita, será muito bem-vinda.

    http://entrereaiseutopias.blogspot.com.br/

    Beijo

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